Desde muito cedo meu pai, por forte influência dos amigos, teve contato com o álcool e o tabaco. Ela estima que desde os doze anos de idade começou a fumar e, de lá pra cá, não deixou mais. Anos se passaram. No dia oito de dezembro fez três anos que nós tínhamos planejado sua internação, porém ele acordou, sentindo profundo nojo até mesmo do cheiro do álcool. Pelo que nossa família passou, não duvidamos que foi um milagre divino.
O tempo passou e ele não deixou de fumar, muitas pessoas inclusive perguntam como ele é cristão e fuma. Com o tempo percebi que esta era mais uma prisão como outra qualquer que devemos abandonar, como a arrogância, por exemplo. Também foi bom para medir a mim mesmo, já que antes fui tão intolerante com quem se dizia cristão, mas possuía vícios dessa natureza.
Um evento bíblico nos diz que Jesus, perto de sua crucificação, estava no monte orando, e, sendo surpreendido por soldados, Pedro usou uma espada para cortar a orelha de um deles. Jesus o repreende e cura o soldado. Mas a pergunta que fica aqui é: qual parte do deixar tudo da antiga vida como condição para ser discípulo Pedro não entendeu? E mais, Jesus durante três anos não o julga por empunhar uma espada. Só três anos depois de chamá-lo Jesus o repreendeu e Pedro entendeu que o reino de Deus não se alcança com espadas.

Este processo que o teólogo Karl Barth descreve como Imitatio Cristi – A imitação de Cristo – no seu livro Chamado ao discipulado requer paciência e doação. É o chamado de Jesus que exige tudo de nós, mas não nos impõe nada. Deus, quando nos chama, sabe mais do que ninguém que terá de ter paciência conosco.
Meu pai é um cristão, não por seu mérito, mas é. Ele se tornou um exemplo de pessoa para mim, alguém que se importa com as coisas eternas. Meu exemplo de cristão é uma pessoa que fuma.
Passaram-se três anos: tempo de discipulado destes dois homens, o apóstolo Pedro e meu pai. Hoje, não exigimos mais algo miraculoso como no Getsêmani ou na libertação do meu pai com álcool, mas aprendemos que não podemos nos afastar deste alvo, o de sermos imitadores de Cristo. Nem mesmo com os nossos tropeços ou prisões. Meu pai é minha prova ocular disso, ele não desiste de Deus, porque sabe que Deus não desiste dele.
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Mateus Octávio Alcantara de Souza tem 20 anos, é Bacharel em teologia e escreve no blog Meditações*